Entrevista: Presidente da Anpei diz que as empresas deverão ser cada vez mais inovadoras para sobreviver
27/06/2011
"O engenheiro Carlos Calmanovici, presidente da Anpei: "O mundo está se mexendo, nós temos que andar rápido"
Valor: O que representa a reunião da Anpei?
Carlos Calmanovici: Ela ocorre em um momento importantíssimo para o Brasil. O país está repensando todo o posicionamento de competitividade, e a inovação tem impacto fundamental nessa busca. Estamos vivendo um momento crítico em relação à posição do Brasil no cenário mundial e percebemos que as empresas estão com esforços crescentes na área de inovação.
Valor: Por que o momento é crítico para o Brasil no cenário internacional?
Calmanovici : Está havendo uma transformação grande no mundo. A gente percebe que principalmente as economias dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estão evoluindo muito na agregação de valor a seus produtos. Há uma evolução na produção da China, na própria Índia. A Rússia começa a seguir a mesma tendência. Esses países têm feito investimentos com resultados significativos na densidade tecnológica dos seus produtos, particularmente dos que são exportados.
Valor: E o Brasil não está acompanhando isso?
Calmanovici : O Brasil está evoluindo também, existe um esforço, mas não estamos evoluindo na mesma velocidade. Isso é preocupante. Para acelerar o processo, a inovação é fundamental. Nessa medida, a inovação, que antes estava muito limitada à agenda científica, passa a ter importância fundamental na agenda econômica. Não estamos mais falando de inovação no sentido - ou na lógica - de invenção, de ciência. Estamos falando de inovação como elemento fundamental da competitividade do Brasil ou das empresas brasileiras. Não basta ter uma tecnologia bonita, interessante do ponto de vista científico. É necessário que essa tecnologia agregue valor. Que essa tecnologia dê uma posição de competitividade, ou dê uma oportunidade competitiva diferenciada para a empresa que a está utilizando.
Valor: Já estamos vendo isso nas empresas brasileiras ou é justamente o que precisamos alcançar?
Calmanovici : Já estamos vendo, mas ainda de forma tímida. Precisamos acelerar o processo, ampliar esse processo. Também há a questão da desindustrialização do país, da densidade tecnológica ser reduzida. O foco da nossa conferência é na inovação nas cadeias produtivas. Esse é um outro referencial de análise, de que não basta ser competitivo isoladamente. Precisamos assegurar a competitividade na cadeia toda.
Valor: Em geral as empresas brasileiras não são exatamente muito inovadoras. Em um país onde a inovação não é tão permeada, como fazer que se inove na cadeira inteira?
Calmanovici : A pergunta é muito boa. As empresas brasileiras são inovadoras e vão ser cada vez mais inovadoras. Temos programas emblemáticos, desde a perfuração em águas profundas, que é extremamente inovador e foi muito arrojado em seu momento. Ou o Proálcool. E empresas emblemáticas como Embraer, Natura, a própria Braskem, que lançou um polietileno verde pioneiro no mundo inteiro. Há vários programas e exemplos de empresas brasileiras inovadoras, extremamente inovadoras. É uma lista interminável e seria uma injustiça eu me limitar a duas ou três delas. Mas todas essas empresas competem em um cenário internacional extremamente desafiador, como falei antes. Mesmo atuando no Brasil a gente sofre a concorrência de produtos internacionais. Há uma necessidade de inovação e as empresas vão atender essa necessidade. A sociedade também está evoluindo, pedindo mais inovação, produtos mais avançados. Mas não é só uma demanda da sociedade, ou não só porque o governo vai ou não estimular a atividade, as empresas serão cada vez mais inovadoras por uma necessidade de sobrevivência. E só vão sobreviver as que forem inovadoras.
Valor: O Valor publicou há alguns dias uma matéria sobre mudanças que o governo estaria pensando em implantar nas políticas de inovação. Como o senhor vê essas mudanças?
Calmanovici :Considero que é uma evolução muito positiva, muito favorável. São melhorias de um marco legal que já funciona. Isso pode ter impacto fundamental na aceleração do processo. Pode ser uma ajuda importante para que essa transformação cultural de inovação tenha ritmo mais acelerado.
Valor: Na opinião da Anpei, o que o governo deve fazer para que a inovação se expanda no país?
Calmanovici : O grande paradigma para as empresas é o seguinte: a inovação é uma atividade de risco. Isso é fato. O paradigma que precisa ser quebrado é que não inovar é um risco maior ainda. Quando (as empresas) percebem que a não inovação é um risco maior ainda, o processo torna-se natural, é a passagem para a cultura da inovação. Na medida em que esse risco é mitigado por ações do governo, é mais fácil fazer essa passagem, fazer a quebra do paradigma. Mas é um processo que depende muito das empresas. No entanto, quanto mais favorável o ambiente macroeconômico, mais fácil é a inovação. Isso significa uma taxa de juros mais adequada. Temos um câmbio extremamente valorizado. Há um custo nas questões trabalhistas e fiscais. A reforma fiscal é de fato uma necessidade. Esses aspectos mais macroeconômicos são fundamentais para consolidar essa cultura inovadora.
Valor: O que podemos esperar para os próximos anos?
Calmanovici :O momento é extremamente importante para o Brasil. O mundo está se mexendo, nós temos que andar rápido.
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