sexta-feira, 10 de junho de 2011

Grupo Votorantim vai tomar US$ 2,65 bilhões de empréstimo

Cristiane Perini Lucchesi | De São Paulo
09/06/2011
 

Daniel Wainstein / Valor
Ernesto Meyer, diretor gerente do BNP Paribas: para acomodar os bancos europeus, empresas brasileiras deverão aceitar tomar parcelas dos empréstimos externos em euros, não somente em dólar.
 
 
A Votorantim Industrial está sondando os bancos para definir quem vai liderar um empréstimo-jumbo de US$ 2,65 bilhões com prazos longos que chegam a nove anos. A empresa está se aproveitando da ampla liquidez disponível no mercado de crédito bancário externo para o Brasil e melhorando o perfil de seu endividamento, segundo confirmou a empresa.
A ideia, segundo a companhia, é reduzir a dívida bruta e alongar seu prazo médio de vencimento. Atualmente a empresa tem três operações de pré-pagamento à exportação que somam US$ 1,64 bilhão em andamento. Planeja converter essas operações em uma única, com novas condições e prazos. A operação nova será de US$ 1,15 bilhão e o valor remanescente de US$ 500 milhões será liquidado antecipadamente, planeja a companhia.
Uma parcela de US$ 1,5 bilhão do novo empréstimo virá de uma linha de crédito rotativo, ou, no jargão do mercado externo, um "standby revolving", com prazo de vencimento em cinco anos. Essa operação substituirá a atual linha de US$ 400 milhões, constituída em 2007 e que nunca foi utilizada, diz a Votorantim. Por meio dessa linha, semelhante a um cheque especial, a empresa paga comissão para ficar com os recursos disponíveis, mas só saca quando e se precisar. No "revolving", a empresa pode sacar a linha e pagar, depois sacar de novo, até o prazo de vencimento.
Como a Votorantim está sinalizando aos bancos que também não pretende sacar o US$ 1,5 bilhão em recursos, as instituições financeiras acreditam que a empresa conseguirá pagar prêmios de risco sobre a Libor, a taxa interbancária de Londres, quase tão baixos quanto os pagos pela Vale no "standby" de US$ 3 bilhões tomado no início deste ano. Se sacar um terço da linha, a Vale vai pagar prêmio de 65 pontos básicos, se sacar dois terços, 80 pontos, e acima de dois terços, 95 pontos básicos.
Os prêmios pagos pela Vale, segundo especialistas de bancos, ficaram abaixo do custo de captação de muitos bancos, que estão apostando todas as suas fichas que a empresa não vai mesmo sacar os recursos. Os mesmos spreads agressivos podem acontecer com o Grupo Votorantim, acreditam as instituições financeiras internacionais. Com o cheque especial, a Votorantim pode liberar caixa para investimentos.
Tradicionalmente conservador e pouco alavancado, o grupo ficou em situação complicada quando, em outubro de 2008, o valor do dólar explodiu, e a empresa teve de desmontar opções de venda de dólar acopladas a swaps com verificação periódica que sugavam o seu caixa e totalizariam US$ 6 bilhões, segundo o mercado. As perdas chegaram a R$ 2,2 bilhões, segundo calculou a Moody's.
Foi então que a dívida líquida do Votorantim explodiu e foi a R$ 24,2 bilhões no final de 2008, em relação aos R$ 7,8 bilhões de 2007, um aumento de mais de 200%. A relação entre a dívida e a geração de caixa operacional (ebitda, lucros antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) que vinha controlada, entre 1,13 e 1,24 vez desde 2005, chegou a atingir os 3,5.
Em meio à situação de emergência, o grupo vendeu ativos e iniciou um grande processo de "gerenciamento de passivos" que está ainda em processo agora. Desde então, a Votorantim reduziu sua alavancagem, com a relação entre a dívida líquida e o ebitda caindo de 3,58 vezes em 2008 para 3,12 em 2009 e para 2,38 no final do ano passado. A meta da empresa é chegar a 2.
A dívida líquida ficou em um total de R$ 15,5 bilhões no fim de 2010, mas o prazo médio subiu de 3,8 anos em dezembro de 2009 para 5,5 anos no final de 2010. O caixa de R$ 7,8 bilhões no final de 2010 era suficiente para pagar 3,5 anos de dívida.
"O mercado está bem favorável aos tomadores", afirma Samuel Canineu, vice-presidente para sindicalização nas Américas do ING. "Há uma liquidez profunda, com os spreads das empresas caindo em maior velocidade do que os spreads dos bancos que fazem empréstimos externos ao Brasil", conta Ernesto Meyer, coordenador de financiamentos para aquisição e operações sindicalizadas para a América Latina do BNP Paribas. "Há mais oferta de linhas do que demanda das empresas", diz.
Com isso, segundo Meyer, muitos bancos procuram alongar os prazos das transações em busca de algum retorno. "Há muitos empréstimos para grandes corporações que têm passado o prazo de dez anos", diz Meyer. Segundo ele, uma tendência daqui para a frente no mercado de empréstimos sindicalizados, para acomodar os bancos europeus nas transações, deverá ser de as empresas brasileiras aceitarem tomar parcelas em euros, não só em dólar. "É uma forma de não pagar o custo do swap embutido no custo do empréstimo", diz o executivo do BNP.
A Marfrig também está com transação de pré-pagamento à exportação no mercado, de total de mais de US$ 200 milhões, de prazo de cinco anos, sob a liderança do Deutsche Bank e do ING. Em três semanas no mercado, a companhia já obteve esse total.

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